Poucos poderiam imaginar que Ribeira Bote (zona do Mindelo, em São Vicente) tinha tanto para oferecer ao turismo a ponto de manter visitantes por, no mínimo, três horas das “ruas libertadas”. Este é um projecto de quatro jovens entre os 22 e 27 anos que recebem grupos de turistas e entram em casas de artesões, de família com uma fonte de água, de venda de grogue e de tudo mais de peculiar que a zona tem a oferecer. Os promotores dizem que “é um sucesso”.
A proposta é fazerem os turistas conviverem de perto com os moradores e conhecerem o seu quotidiano. A ideia partiu do Frei Silvino, um activista comunitário, que Charlene Graça (licenciada em Gestão Hoteleira e Turística), Mirian Lopes (licencianda em Psicologia), Davidson Graça e Ary Rodrigues, ambos com 12º ano, abraçaram para empreender um novo negócio. “Esta é uma zona cheia de artistas e por isso os turistas podem consumir os produtos confeccionados aqui dentro mesmo”, explica Charlene Graça.
Na realidade, o grupo quer oferecer uma alternativa ao turismo de sol e praia, apontando no comunitário. E com isso pensam contribuir também para o aumento do nível de vida dos moradores e enriquecimento da cultura crioula dos visitantes.
Com uma média de um grupo de turistas por semana, o “Turismo Comunitário de Ribeira Bote” faz sucesso. Desde alemães, italianos, suecos, franceses a cabo-verdianos emigrantes estão a preferir aceitar este pacote atractivo de contacto com as pessoas nos seus ambientes.
ROTEIRO
O roteiro começa, às nove horas, com uma visita ao mercado da Ribeira Bote onde os turistas podem adquirir roupas, ervas para fazer chás, argila, pimenta ou outros produtos. Seguem em direcção à zona de “Ilha de Madeira”, local onde está a maioria dos artesões de São Vicente. Por lá aproveitam e entram no espaço de um grande sapateiro da localidade antes de conhecerem a casa de uma senhora onde existe um poço de água para tarefas doméstiAinda há tempo para conhecer costureiros, trabalhos em barro e bordados. Ao meio-dia é hora de degustar um grogue ou ponche com uma bafa de pastel de milho antes da partida. Todo este circuito custa cerca de dois mil escudos por pessoa, incluindo almoço de cachupa guisada ou cozida. Se for sem almoço são mil e 500 escudos. O maior grupo de turista foi de 14 pessoas a conhecer a vivência de Ribeira Bote.
SEGURANÇA É FEITA PELOS JOVENS DA ZONA
Por causa de alguma preocupação com a segurança dos turistas numa zona já antes apelidada de “ponto negro” pela Polícia Nacional, o grupo avançou por uma opção mais ousada: convidar um jovem da comunidade que pertence aos grupos da zona para os acompanhar durante a visita. Desta forma fazem mais uma pessoa da comunidade ganhar com este projecto e garantem ainda mais a segurança.
“Não deixamos esses rapazes de fora. Sempre os contactamos e há uma interajuda naquilo que é possível. Poderíamos trabalhar com qualquer outra pessoa mas decidimos por eles porque a pior coisa que poderíamos fazer era exclui-los”, afirma Charlene, considerando assim que todos saem a ganhar.
EMPREENDEDORES
De tal forma que esses mesmos jovens agora reúnem-se para fazerem actividades e tentarem ganhar algum dinheiro com os turistas.
Para já, o grupo de “Turismo Comunitário de Ribeira Bote” avançou com o projecto para ser financiado pelo banco mas ainda não tiveram resposta. Nada que os faça desistir. Afinal, o número de turistas em São Vicente tem aumentado, o que abre novas perspectivas a este tipo de turismo, cada vez mais comum noutras paragens.
Fonte: A Nação